A passagem de ano que ninguém deseja
O ditado diz, não deixes para amanhã o que podes fazer hoje!
Sabem quando adiamos para amanhã, e esse amanhã não chega.
Sabem quando damos algo como garantido, e esse "garantido” desaparece.
31 de Dezembro de 2018, entramos na contagem decrescente para receber o novo ano, a família e amigos estão animados, brincam e divertem-se, começa-se a contar as 12 passas de uva, a revisitar os desejos para 2019, afinal só faltam 10 minutos, e….buuummm…gritos, choros, uma brincadeira aparentemente inócua entre um pai babado e um filho que está também a 10 minutos de celebrar o seu 4º aniversário, torna-se num acidente muito grave, olhamos uns para os outros, e agora?
Não há tempo a perder, avançamos para o Posto de Saúde, é urgente o António ser visto por um oftalmologista, o 1º diagnóstico indica que terá de ser operado urgentemente.
Telefonemas e mais telefonemas, a resposta chega, destino Hospital de São José em Lisboa, são mais de 150 Km, não há tempo a perder, pego no carro e conduzo com muito foco e consciência.
A ansiedade aumenta a cada minuto, o nervosismo apodera-se de António, os seus pensamentos não eram agradáveis, nem bons. A esposa dá-lhe um calmante para que possa relaxar, na sua cabeça surgem muitas questões, uma delas é exteriorizada, acreditam que vou ficar bom?
Silêncio (…), a situação não é boa, mas vamos fazer tudo para que corra bem.
Respondo ao António, e digo-lhe que acredito que, “Às pessoas boas, acontecem coisas boas! Esta situação está longe de ser agradável, mas Deus vai ajudar-te”.
Por volta das 01h30 entramos em Lisboa, muito trânsito e movimento nas ruas, afinal tínhamos acabado de entrar no novo ano que todos querem que seja “o ano”. Apanhamos o 1º semáforo vermelho, nesse instante surgiu-me uma questão:
Qual a prioridade neste momento?
E a resposta veio logo a seguir, não era altura para medos, não era altura para ser “politicamente correto”. É altura de manter o foco na missão.
Ligo os 4 piscas do carro, e avanço direito ao destino, todos os segundos contam.
Chegados ao hospital, fizemos o registo de entrada e triagem para analisarem a gravidade da lesão.
Pareceu um contrassenso, ao olharmos para o lado e víamos ambulâncias a chegarem com pessoas alcoolizadas e entrarem diretamente para serem assistidos.
O António é observado por um médico Oftalmologista que também é cirurgião (Às pessoas boas, acontecem coisas boas), faz alguns exames, e avançam para o bloco operatório.
O médico confidencia que chegamos a tempo, e diz que vai fazer o seu melhor. Restam-nos rezar, e agradecer termos tido os recursos necessários para estarmos ali a tempo de entregar nas mãos da equipa médica, e de Deus o futuro da vista do António.
Durante a operação, mantive-me na zona de entrada das urgências e vi das coisas mais lamentáveis e revoltantes que já tinha sentido.
Entravam pessoas alcoolizadas, atrás de pessoas alcoolizadas, que não bastava o seu estado lamentável, muitas delas eram mal-educadas e agressivas para as equipas assistentes, e para os reais pacientes, e familiares.
Não sou pessoa de extremos, e acho que cada pode fazer o que quiser, mas sem que com isso afete ou prejudique os demais.
A todos eles, deixo o meu desprezo e revolta, por ao quererem alimentar o seu ego, tiram espaço a quem realmente precisa de ajuda, e que está a lutar pela vida.
Consumindo os recursos públicos e o dinheiro de todos nós contribuintes!
Aproveito para deixar uma palavra de apreço aos médicos, enfermeiros, administrativos, e restante staff do hospital de São José, pela forma atenciosa e profissional como nos atenderam e assistiram o nosso amigo.